O Lapa não demorou muito a chegar. Na verdade, o tempo corria à galopes.
A tarde tava tão quente. Eu tava tão suado. O bar tava vazio.
Sentado no meu lugar de sempre, deixei que o vento secasse minha rosa encharcada. Acho que pela primeira vez, vi um ônibus como meio de transporte, simplismente. O que me ocupava era quanto tempo levaria para chegar. Eu não sabia.
Não sabia do engarrafamento que me esperava na Bonocô.
"Engarrafamento é apelido."
Duas horas esperando por uma greve não anunciada. Vendo carros atropelando canteiros, carteiros.
A impaciência fazia o calor aumentar e as coisas derreterem mais apressadamente. Hora inoportuna pra tais sensações. Inspirei.
De olhos fechados era melhor. Me lembrava das trevas flutuantes e voltava a me ouvir. Só que o rosto que eu agora via era o de uma senhora, doente, rindo. O frio de dentro se fez mais forte que o calor insuportáveL e, por um momento, viajei.
Não estava mais ali e nem queria. Já estava longe.
Estava mesmo. O ônibus andara e eu nem percebi. Desci. Andei. Andei.